A Ciência e a Arte não estão desassociadas e sempre andaram juntas como uma forma de complementação. Um dos maiores exemplos foi Leonardo da Vinci que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Transitava por todos estes campos sem qualquer embaraço. E seu conhecimento em matemática lhe foi útil na simetria e composição de suas pinturas. E as suas pinturas o ajudaram no estudo de anatomia.
Outro gênio, o físico Albert Einstein, em paralelo a sua carreira científica, sempre se dedicava ao estudo e à prática do violino. Defendia a ideia de que era necessário se afastar, momentaneamente, do objeto de pesquisa quando havia a exaustão. Isto permitia uma maior compreensão sobre esse objeto, e dessa forma tinha eventuais insights que o ajudavam na formulação de suas teorias. Einstein também defendia o livre pensar e é atribuída a ele a frase: - A imaginação é mais importante do que o conhecimento.
Por sua imaginação, o escritor Arthur C. Clarke foi contratado pela NASA para sugerir invenções. A mais importante foi aplicada em telecomunicações, que é o conceito de órbita geoestacionária que permite satélites permanecerem na mesma posição, possibilitando a regularidade das transmissões.
Clarke também sugeriu a ideia de barcos à vela movidos pelo vento solar e fez isto através da literatura num conto em que descreve um campeonato de barcos no espaço. Esta ideia foi estudada pela NASA, e demonstrada por Carl Sagan no programa Cosmos, mas ainda não foi implementada.
Um dos livros de Clarke, “2001 – Uma odisseia no espaço” - foi levado para o cinema por Stanley Kubrick. No filme, numa das imagens mais poéticas já vistas no cinema, a câmera foca um bando de símios na natureza, e um deles que utilizava um osso como arma de luta e de dominação sobre os seus semelhantes, joga esse osso/arma para cima que gira no ar, e na transição, ele se transforma numa nave. Nesta transição, há um salto entre a pré-história e o futuro quando o homo sapiens passa a explorar outros planetas. Ainda no filme, na sequência, a outra inspiração de Kubrick foi colocar as valsas de Strauss (compostas no século XIX, em Viena, na Áustria) como trilha sonora acompanhando os movimentos de naves e estações orbitais. O roteiro do filme de Kubrick foi escrito por Clarke.
Os poetas também tem colaborado com os cientistas na denominação de teorias. É caso da teoria Gaia liderada por James Lovelock ao propor que o planeta Terra é similar a um organismo, ou seja, um ser vivo com processos fisiológicos que contribuem na sua resiliência e equilíbrio. O nome Gaia foi dado por Willian Golding, prêmio Nobel de Literatura e amigo de Lovelock, sendo uma referência à deusa grega suprema da Terra. Antes disso, o poeta J. W. von Goethe que também incursionou pelo campo da Ciência, no século XIX, teve uma ideia precursora da teoria pois concebeu a Terra como um organismo animado pelo mesmo ritmo de inspiração e transpiração de um animal ou de uma planta. A teoria Gaia foi muito criticada no passado, mas atualmente é aceita na comunidade científica como uma das teorias mais avançadas que existem em ecologia.
A poesia também está inserida na ficção científica como na obra de Ray Bradbury. E o seu livro mais significativo neste sentido é “Crônicas Marcianas”. Neste livro, apesar das aventuras de foguetes e astronautas em nosso planeta vizinho, o que mais aparecem são os conflitos e os sentimentos humanos. O amor de uma marciana por um astronauta terráqueo, é como se tivesse sido escrita por William Shakespeare transposto para o futuro. A disputa de poder também está presente neste livro, no entanto, é mais acentuada em outra obra clássica de Bradbury: Fahrenheit 451 que trata sobre a dominação política com a subjugação da cultura e a criminalização dos livros. Ler ou portar livros é considerado um ato subversivo e o infrator pode sofrer graves penalidades, como a própria morte.
O homem não pode se prescindir dessas duas entidades (vamos falar assim): a Ciência e a Arte. A Ciência procura responder algumas perguntas do homem diante do Universo e também ajuda a preservar a Vida diante da hostilidade do meio, das doenças e outras ameaças. E o homem também precisa da Arte para expressar os seus sentimentos mais genuínos de alegria, tristeza, solidão, encantamento e de estupefação diante do Universo e da própria vida que se manifesta diante de seus olhos.
Luiz Felipe Rezende
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