O compadre que mora em um sítio no Morro do Pião, perto de São Thomé das Letras, em Minas, me mandou uma mensagem em que estava horrorizado com as luzes, em muita quantidade, que cruzaram o céu na noite anterior. Nunca havia visto algo semelhante. Reuniu a família (também aterrorizada), a comadre, o filho e a nora e se puseram de joelhos a rezar. Com tantas instabilidades, guerras, mudanças climáticas, crises, pensaram que aquelas luzes deveriam ser os últimos sinais do fim dos tempos. Tonzinho, o cãozinho bassé, ficou admirado, sem entender o comportamento dos donos (o que deve pensar um cachorro que não tem religião como os humanos?).
O Morro do Pião que é vizinho à serra de São Thomé das Letras, tem uma ligeira inclinação de vinte graus (aproximadamente) do seu ponto pontiagudo mais alto até o chão. Lá no sítio, com o céu limpo, podemos ver a Via Láctea desfilar imponente, cheia de si, rainha no céu noturno.
Quando andei por aquelas bandas, o morro do Pião era um lugar ermo em que encontrávamos cachorros do mato e até a presença de jaguatiricas poderiam ser constatadas pelas pegadas no chão.
As jaguatiricas ainda dão sinais de sua presença. Vez ou outra aparecem os restos mortais de algum novilho, um leitão, alguma galinha, vítimas do felino faminto. O compadre me conta que os sitiantes vizinhos, produtores rurais, ficaram indignados diante de novas vítimas porque representavam prejuízo financeiro. Reuniram e montaram uma caravana ou tropa para caçar o felino, lá no sítio dele (onde havia rastros do animal). O bassê Tonzinho ficou excitado com a possibilidade da caça, talvez resquícios distantes de seus ancestrais selvagens, os lobos. No entanto, Tonzinho era mais urbano do que rural, pois passava a semana na cidade e só no final de semana que ia pra roça. Assim, o compadre o advertiu: - você sabe onde está se metendo? Vai virar filé no cardápio da onça.
Tonzinho quando chegava da cidade, e descia do carro, ficava louco no campo, corria com alegria por todos os cantos ao vento livre que sopra na montanha. Cheirava e cafungava diversos lugares, o alpendre, o paiol e o curral como reconhecimento de seu território.
Mas este texto não é sobre o Tonzinho e nem sobre as onças jaguatiricas no morro do Pião, e sim, sobre as misteriosas luzes no céu de Minas. Não sou especialista neste assunto, mas perguntei ao compadre, qual era a trajetória das luzes? Em linha reta e não voltavam? Ou o movimento era irregular? Me falou que aquelas luzes verdes cruzavam o céu em linha reta, na mesma direção e não voltavam. Foi muito fácil constatar e confirmar numa busca na internet que estava prevista uma chuva de meteoros naquela semana por vários dias. E o meteoros estavam vindo da constelação de Leão, neste caso são chamados de “leonídeos”.
Os meteoros e meteoritos os quais também chamamos de “estrelas cadentes” são detritos deixados por cometas e se tornam espetáculos para as nossas vistas. Eles são corpos de tamanhos bastante variados, que podem ser da cabeça de um alfinete e até alguns metros. Atingem a atmosfera terrestre em velocidades muito altas (20 km/s ou 72.000 km/h) e são consumidos na atmosfera (sublimam ou vaporizam completamente). Quando não são consumidos e chegam à superfície – são chamados de meteoritos e são compostos por metais (ferro, níquel) e/ou rochas. São muito densos, e um pedaço pequeno (20 cm) pode pesar até dezenas de quilos. O maior meteorito achado em território brasileiro é o Bendengó, encontrado na Bahia em 1.784, mede 2,20 por 1.45 m; pesa 5.360 kg; e está exposto no Museu Nacional, em São Cristóvão, no Rio.
Não entender ou desconhecer fenômenos naturais, sempre nos levou a recorrer a explicações paranormais ou religiosas, diz Carl Sagan. O compadre e a família, lá na serra, ficaram assustados. Tonzinho, não. Não consigo imaginar o que o cãozinho pode ter pensado ao ver uma chuva de meteoros no céu. Ou não pensou nada sobre esses “leonídeos”. Talvez, tenha se preocupado mesmo foi com os rastros e o cheiro da onça, lá no sítio, o seu território que tanto prezava.
Luiz Felipe Rezende
(Foto: Thunder Dellú)
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