Escutei essa história que os fazendeiros no sul de Minas estavam incomodados com as pombas (Columbidae) que estavam habitando as suas propriedades. Houve um surto e se espalharam por vários lugares, havia ninhos de pombas encasteladas nos currais ondem fazem a ordenha das vacas, nos silos onde guardam o milho, na casa-sede, onde o rulhar das aves incomodava o sono dos senhores proprietários, das matriarcas-esposas e das donzelas-filhas-casadoiras.
Sobre as pombas, dizem que é mito, e não há provas, se de fato, elas transmitem doenças. Por outro lado, também há diversas fontes oficiais de saúde pública alertando que elas podem transmitir mais de 50 tipos diferentes de doenças. Um dos motivos da má fama, é que as pombas procuram comida nos lixos e se alimentam de fungos, bactérias e outros parasitas. E ainda vivem em locais imundos, pois defecam (em grande quantidade) em suas moradias.
E lá em Minas, os fazendeiros constataram que não dava certo ter no mesmo curral, as cagadas das pombas e o leite que jorrava das tetas das vacas. A produção poderia ser contaminada, e isto prejudicaria a comercialização.
Pensaram em fazer uso das carabinas enferrujadas ou colocar veneno para promover a extinção dos pássaros. Mas desistiram e então resolveram capturar as aves com as arapucas feitas de trançado de bambu. O atrativo para as pombas foi o próprio milho produzido na fazenda. Deu certo. Depois de capturadas e engaioladas, as pombas foram colocadas numa camionete e levadas para a cidade. No alto da colina, onde fica o cruzeiro na entrada do cemitério e onde se avista a área urbana e as montanhas azuladas, os fazendeiros abriram as gaiolas e as aves voaram livres.
Mas alguém perguntou: - por quê não eliminaram as pombas lá na fazenda, ao invés de trazer o problema para a cidade? Logo veio a resposta: - a pomba é o símbolo do Espírito Santo, presente em todas as igrejas e nas capelas de Minas. Matá-las, desagradaria a Deus e isto poderia trazer agouro e infortúnios como a geada no cafezal, a aftosa no gado, a broca e as larvas nas plantações. Não foi um gesto exemplar de cidadania, mas não ofenderam ao Espírito Santo. E os fazendeiros lavaram as mãos e voltaram para o campo, para a lida com a terra e a criação.
Luiz Felipe Rezende
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