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AS FLORESTAS E AS ÁRVORES, AS NOSSAS PARENTES

No Dia Internacional das Florestas e Árvores (21 de março) , vamos enaltecê-las e por que não as chamarmos de nossas irmãs, assim como fez o poeta Fernando Pessoa com as plantas (In Poemas de Alberto Caieiro. Fernando Pessoa, de 1993, XVII No meu prato que mistura de Natureza!):


"No meu prato que mistura de Natureza!

as minhas irmãs as plantas,

as companheiras das fontes, as santas

a quem ninguém reza...”


Sabemos dos grandes serviços que as árvores e florestas prestam ao planeta, como a transformação do carbono inorgânico em orgânico, através da fotossíntese, que é um processo fundamental/essencial para a vida no planeta. Fazendo esta tarefa, elas promovem a remoção do CO2 da atmosfera, um gás que contribui significativamente para o aquecimento global. E elas nos dão os frutos maravilhosos e ainda as sombras e contribuem para o microclima, amenizando as ondas de calor. E ainda servem de abrigo e proteção para os pássaros, os insetos como as abelhas, e a flora.


Há pessoas que veem as árvores como coisas, objetos, e se esquecem que são seres vivos que tem células como nós, e tem seiva que é semelhante ao nosso sangue, por onde se distribui os nutrientes através dos xilemas e floemas, semelhante às nossas veias.

E mais, a inteligência das árvores e das plantas (existem muitas evidências) tem sido motivo de estudos. Darwin já havia proposto isto em 1898. O professor Marcus Buckeridge, do Laboratório de Fisiologia Ecológica de Plantas (LAFIECO), da Universidade de São Paulo  (e com o qual tive a oportunidade de trabalhar juntamente com o seu grupo durante o meu doutorado), tem uma linha de pesquisa neste sentido. Buckeridge considera que nos processos fisiológicos e de adaptação, há evidências nas árvores e plantas de que algumas características essenciais da inteligência estão presentes, como: 1) capacidade de armazenar informação (ou memória); 2) capacidade de processar informação; 3) capacidade de “se perceber” como um indivíduo e 4) capacidade de decidir.


O pesquisador alemão Peter Wohlleben (em seu livro: A Vida Secreta das Árvores, cuja tradução foi publicada pela editora Sextante em 2017), argumenta que as árvores vivem em comunidades e tem noção de vida social pois se comunicam através das raízes, fungos e micorrizas (associação simbiótica entre fungos e raízes), e colaboram entre si, e se protegem, trocam nutrientes e organizam estratégias de sobrevivência.


No entanto, as árvores e as florestas têm sofrido pelo momento crítico no planeta com as mudanças climáticas e os desmatamentos em que a integridade da biosfera sofre alto risco, pois com a extinção de espécies em taxas nunca vistas, estão ocorrendo perdas de banco genético. Outro fator é a produtividade da vegetação (a sua assimilação de carbono), que não tem sido suficiente para abastecer os setores socioeconômicos e os ecossistemas, contribuindo para colocar em risco a resiliência do planeta.


Mas vamos falar e homenagear algumas árvores de nosso país. Começando pela Amazônia, pelas Samaúmas (ou Sumaúmas) (Ceiba Pentranda) que são consideradas sagradas pelos maias e pelos indígenas brasileiros e são gigantescas, podendo chegar até 70 m de altura e vivem até 120 anos. E vamos falar de outras árvores gigantes, recentemente descobertas no Amapá, como o angelim--vermelho (Dinizia Excelsa) que também pode atingir 70 m de altura (revista FAPESP, fevereiro de 2024).


E vamos lembrar da Caatinga, falar do umbuzeiro (Spondias tuberosa L) cujo fruto (umbu) serve para sucos, bolos, sorvetes, etc. E da jurema preta (Mimosa tenuiflora), que ajuda a restaurar o solo degradado. E da catingueira da folha miúda (Poincianella microphyllis), que ao anoitecer as folhas delicadamente se fecham e dormem o sono dos anjos.

E por que não homenagearmos as árvores de nossas vidas como as de nossas infâncias: a goiabeira do meu quintal, a mangueira onde amarrava o balanço e as jabuticabeiras dos vizinhos.


E falar das árvores de minha rua, como as murtas (Murraya paniculata) que exalam o perfume que chega a minha varanda. E homenagear a imensa sibipiruna (Caesalpinia pluviosa) do meu trabalho, a qual dou bom dia e passo a mão em sua textura vegetal que massageia os poros de minha mão. As árvores são todas nossas irmãs. São nossas parentes. Vamos protegê--las e amá--las. Vamos nos lembrar delas sempre, não apenas nos dias de datas comemorativas.

Luiz Felipe Rezende

 

(Texto publicado na página do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,  a convite da Secretaria de Comunicação-INPE, pela comemoração do Dia Internacional das Florestas e Árvores).




Foto da sibipiruna citada na crônica (Luiz Felipe)

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