top of page

TARDE EM ITAPOÃ E POEMA EM AREMBEPE

Em férias na Bahia, há muito tempo atrás, meu amigo Luiz Fernando Gazzola (Gajo) e eu, além de comer vatapá, acarajé comprados da baiana na praia, visitar a igreja do Pelourinho, conversar com cigana no elevador Lacerda, ir a um terreiro de Candomblé e assistir Caetano Veloso no Teatro Castro Alves; tiramos um dia pra conhecer a praia de Itapoã. Naquela época, a praia estava descuidada, e Gajo não perdoou: - Vinicius de Moraes deveria estar bêbado quando compôs a canção.


No outro dia, pegamos o ferry boat Maria Bethânia em Salvador para a ilha de Itaparica. Naquela época, o escritor João Ubaldo Ribeiro vivia em Itaparica, e escrevia de lá as suas crônicas que eram publicadas no Globo. E os personagens de Ubaldo eram inspirados em habitantes da cidade. Meu amigo Luiz Fernando estava impregnado pelas crônicas de João Ubaldo e queria encontrar os personagens pelas ruas de Itaparica. Um dos personagens – contou-me Gajo - era o fantasma do avô que ficava vendo o escritor datilografar na máquina de escrever e dava palpites nos textos.

E depois pegamos um ônibus velho e uma estrada de terra, e andamos e andamos por essa estrada poeirenta até chegarmos ao lugarejo conhecido como Arembepe. No almoço, comi um dos peixes mais deliciosos de minha vida.


Depois fomos para a praia e me estirei na areia e fiquei contemplando a paisagem. Vi ao longe, um vulto caminhando em nossa direção. Vinha lentamente, parecia que era trazido pelo vento. Quando se aproximou, percebi: parecia um viking sem os chifres. Com uma roupa primitiva, barba espessa, cabelo loiro, meio nórdico, deu um sorriso amigo e seguiu pela orla até desaparecer.


Gajo me lembrou que na década de 70, em Arembepe, teve um grande festival de música, até Mick Jagger, dos Stones esteve lá. Depois desse festival, algumas pessoas ficaram vivendo em comunidades alternativas. Então pressupomos que o viking sem chifres deveria ser um remanescente desses tempos.

O mar estava maravilhoso, lindo. Então, depois do banho, bateu uma inspiração, vieram uns versos na cabeça que eu resolvi registrar na areia úmida. Incrível, que de repente, fui derrubado pelas ondas, e passei por alguns segundos naquela situação em que a gente perde o controle sobre o nosso destino, e lutamos para retomar, pois o mar me arrastou várias vezes pra dentro e pra fora e me jogou de cara na areia. Bebi um pouco d’água e finalmente me recompus, quando a água voltou mar adentro. Me levantei e andei meio cambaleante. O poema? As águas apagaram e não tenho a menor ideia do que escrevi. O mar rejeitou a minha criação literária. Se servir de consolo, Netuno e Iemanjá leram o meu poema. Não são obrigados a gostar, mas o meu texto não passou indiferente.


Luiz Felipe Rezende



Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page