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PISCINA

Após cumprir o meu trabalho, dou-me de presente este momento de prazer no final de uma tarde de verão. E antes de entrar na água, espreguiço-me como um lagarto na cadeira reclinável de madeira, e vejo o mundo e a natureza através do filtro dos meus óculos escuros.


A piscina está vazia, tem apenas este escriba que vos fala e um funcionário do clube do outro lado, ocupado com a bomba e a limpeza.


Não tenho compromisso com nada e sinto o vento que muda de direção a todo instante e varre algumas folhas secas que compõem a paisagem. As nuvens grossas, encharcadas não sabem se chovem ou não. 


Uma maria-branca pousa sobre a bandeirinha do clube, depois saltita, espera a companheira e depois voam para uma árvore alta do outro lado. E o funcionário com um grande chapéu de palha caminha na direção de uma mangueira que abastece de água a piscina. Deve passar perto de minha cadeira. E quando se aproxima, solta esta frase que apesar de ser sem maldade; é intrusa, sem lastro e sem contexto:


- Mulher nova judia mesmo, né, moço?


O funcionário do clube procura ser solidário. Acha que o meu silêncio contemplativo, trata-se de dores de amores. Acha que sofro por uma moça plena de juventude que me dilacera e me mantém nesta solidão. Um amor que me leva a reflexões recorrentes (os puristas me perdoem o pleonasmo) e que me traz um gostinho de amargura no final de uma tarde de verão, diante de uma refrescante piscina e de uma paisagem com árvores, vento, nuvens e pássaros.


Luiz Felipe Rezende



Luiz Felipe Rezende

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