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O CHAPÉU DO FIEL

  • luizfeliperezende0
  • 19 de abr.
  • 2 min de leitura

Essa Minas não sai de dentro mim.

Tardes arrastadas nas praças

e a bagunça dos pardais.


Quantos caminhos de terra batida: Cruzília,

Airuoca, Baependi, Carrancas, São Thomé das Letras,

São Vicente de Minas e Minduri.

Cada cidadezinha que surge detrás de uma montanha,

descubro um pouco mais de mim.


Vejo a serra da Mamica em Luminárias.

(A natureza imitou a mulher ou a mulher imitou a natureza?)


E a Serra das Ninfas, depois do leprosário Santa Fé, tão linda!


As cruzadas nas esquinas

e os campinhos de futebol de grama úmida beirando o lago de Lambari.

Assistir ao clássico sul-mineiro:

- Atlético de Três Corações contra o Flamengo de Varginha

Acordar em manhãs geladas com as alvoradas da banda militar.

Jogos de botão sobre o ladrilho frio na varanda

e vejo o caminhãozinho verde-musgo

que entregava carne no açougue do seu Enê.


Andando por outros lugares do mundo, carrego essa Minas dentro de mim.

Ela nunca sai. Está dentro das células, na memória e percorre o meu sangue.

Percorrem o meu sangue os minerais: é o quartzito respirado na serra. Mais o arenito dendrítico.

Ainda o ouro escuro que havia na lavra da Pedra Preta.

E sinto na boca o gosto ferruginoso das águas de Cambuquira.

Gosto de sangue.


E também não sai

a memória dos cheiros: brincando sobre sacas de café na fazenda do Capão.

E o cheiro de goiabada no ar do coleginho de Itajubá

(a fábrica ao lado).


Essa Minas não sai de dentro de mim.

Aonde for carrego como uma maldição,

uma sorte do destino.

Suas procissões abertas a todos os pecadores.

O som das matracas e os passos sobre as pedras.

O sino grave e a subida íngreme para o cemitério.


Subo numa daquelas torres de igreja

e tento ver o mundo a partir do meu sul de Minas.


Lembro de meu pai que pagava promessa à imagem de Nossa Senhora na cidade de Campanha

e não me esqueço do chapéu do fiel voando de cima do caminhão.

(Meu pai falou que o fiel obteria uma graça).

Essa imagem invadiu como uma intrusa e estranha em minhas lembranças, e nunca se apagou:

-o chapéu do fiel em de cima do caminhão. E o vento levando.


                                                                                                   Luiz Felipe Rezende



Igreja matriz de São Thomé das Letras-MG (Foto de 1996 - LFR).









 
 
 

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