A LUZ DO CHICO PARA TODOS
- luizfeliperezende0
- 18 de jun.
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O público era muito diversificado: de escriturários e secretárias a altos funcionários de multinacionais. Pensei então que condizia com o nome do show de Chico Buarque, no Canecão (*): Paratodos.
Quanto ao Canecão, a mais famosa casa de espetáculos do Brasil, a primeira impressão foi de um lugar lúgubre e abafado, marcado pelo astral da noite, com o mofo impregnado em seus carpetes. Encontrei a casa ainda vazia, bem antes do espetáculo. Poucas pessoas transitando entre as mesas. Entre elas, o músico Marcelo Bernardes, flautista da banda do Chico.
Muitas garçonetes espalhadas pelo salão. As garçonetes são senhoras simples, do tipo domésticas suburbanas e carregavam bandejas iluminadas por lanterninhas afixadas nas bordas.
E Chico brilhou com a sua luz de primeira grandeza.
O parceiro Edu Lobo define o compositor como um inventor pela maneira original de trabalhar as harmonias. Tom Jobim dizia que Chico é gênio na maneira como trabalha harmonia, melodia e letra. O músico argentino Astor Piazoola acreditava que Chico psicografa as canções que compõe. Piazzola achava que o compositor brasileiro era muito jovem para escrever letras tão densas.
O cineasta tricordiano Braz Chediak teve um de seus filmes “Perdoa-me por me traíres” contemplado com a canção “Mil perdões”. Braz conta que ficou admirado com o perfeccionismo do compositor. No estúdio, na hora da gravação, Chico agachado, caneta em punho, ainda lapidava a letra.
E no Canecão, Chico destilou bom astral e boa música. Atendendo aos pedidos, voltou cinco vezes ao palco para dar um bis, uma canja a mais, após fecharem as cortinas. Foi emocionante o seu respeito ao público. Ele percebe aquilo que as pessoas sentem: a música popular brasileira foi uma das coisas que deu certo neste país. O poeta está atento e compreende as feridas do seu povo.
Luiz Felipe Rezende
(Publicado em 8 Fev. 1994 - Jornal Três)
(*) Tradicional casa de espetáculos no Rio de Janeiro que foi desativada em 2010.

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